Vítima de um câncer de medula óssea, o cantor Luiz Melodia chegou a fazer esse tipo de transplante para tentar vencer a doença. Apesar de o procedimento ter dado certo, ele não vinha respondendo bem à quimioterapia e, na madrugada desta sexta (4 de agosto), acabou morrendo no Rio de Janeiro.
Ainda assim, o transplante de medula óssea é um bom recurso à disposição dos médicos para diversos tipos de câncer (e mesmo outras doenças). A seguir, mostramos como ele funciona – e o que fazer para se tornar um doador.
1.O nosso tutano
A medula é um tecido gelatinoso que fica no interior dos ossos, especialmente no ilíaco, localizado no quadril, e no esterno, no meio do tórax. Sua função é originar os três tipos de células que compõem o sangue: as hemácias, os leucócitos e as plaquetas.
Quando entra o transplante
O método é uma opção contra mais de 200 doenças diferentes, como o mieloma múltiplo, leucemias, linfomas e anemias muito graves. Nesses casos, costuma ocorrer um defeito na produção ou no amadurecimento das células do sangue – o que pode ser fatal.
Preparando o terreno
Antes do transplante, o paciente precisa tomar doses potentes de quimioterapia – em certos casos, até a radioterapia é convocada. O objetivo é erradicar as células defeituosas e abrir espaço para o surgimento de unidades novinhas em folha.
Viagem ao interior dos vasos
O transplante em si é tranquilo: células-tronco doadas são infundidas por meio de um cateter na região do peito. Elas trafegam pela circulação até chegarem ao interior dos ossos, onde tomam conta da área, formando aos poucos uma nova medula saudável.
Todo cuidado é pouco
Logo após o procedimento, o paciente é isolado em uma ala do hospital por quatro ou cinco semanas. Ele fica muito fragilizado, uma vez que está sem imunidade para se proteger de agentes infecciosos. Mesmo assim, é possível receber visitas de familiares.
Missão cumprida
O transplante é um sucesso no momento em que a medula começa a gerar uma boa dose de células sadias. Isso é comprovado quando os neutrófilos, um tipo de unidade de defesa, ultrapassa a taxa de 500/mm3 nos exames por dois dias consecutivos.
O processo de doação
Existem duas maneiras de colher a medula de um indivíduo saudável
Punção: uma agulha grossa é inserida no osso ilíaco e suga cerca de 15 mililitros desse líquido gelatinoso por quilo do doador. Feita com anestesia geral, leva em torno de 90 minutos.
Aférese: aqui, a coleta ocorre por meio de cateteres nas veias dos braços. O sangue é filtrado numa máquina, que retém as células-tronco. Demora de duas a quatro horas.
As três origens para a base da nova medula
Alogênica: forma mais comum consiste em pegar células compatíveis de um familiar ou anônimo.
Cordão umbilical: dá para guardar as células-tronco após o parto e conservá-las em bancos públicos.
Autóloga: a medula vem do próprio paciente. Ela é recolhida antes da químio para, depois, ser reintroduzida.
Como ser doador?
Primeiro, você deve ter de 18 a 55 anos. Dito isso, basta visitar o hemocentro mais próximo, preencher uma ficha e fazer um exame de sangue que avalia as características de sua medula. As informações vão para o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea, do Instituto Nacional de Câncer. Caso surja alguém que precise de transplante e seja compatível com você, os médicos entrarão em contato.
Fontes: Adriana Seber, médica membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea; Aline Miranda de Souza, hematologista e coordenadora do centro de Transplante de Medula Óssea da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo; Celso Massumoto, coordenadora da Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital 9 de Julho (SP); Yana Novis, diretora da Hematologia e do Transplante de Medula Óssea do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês (SP)